Brasileiro - Olímpico Monumental
No aeroporto, as primeiras camisas tricolores desfilavam no saguão. No caminho para casa, voltaram a aparecer, cada vez em maior número. Na padaria da esquina, de onde se avista o estádio, casais de namorados de mãos dadas seguiam para o jogo. Faltavam ainda duas ou três horas para o início da partida. Sentado a mesa, enquanto o café era servido, lembrava das muitas caminhadas que fiz entre minha casa de infância e o Olímpico. Boa parte delas acompanhada de meu pai. Naquela época, creio que as namoradas não gostavam de futebol como as de hoje.
Hoje, porém, meu caminho era outro. Segui na direção contrária a do estádio. Deixei para trás aqueles torcedores que andam apressados a espera de uma vitória. Dei as costas para o que foi meu destino, quase obrigação, durante a infância, a adolescência e parte da minha vida adulta. Não que não tivesse vontade de ir ao estádio, ocupar as cadeiras azuis e geladas que me abrigaram durante muitos anos, cantar e cantar com todos que lá estivessem, sempre acreditando que a arrancada vai se iniciar.
Minha obrigação era outra neste sábado de temperatura amena em Porto Alegre. Obrigação e desejo. Iria dividir a sala de estar com meu pai e meu irmão, sentaríamos diante da televisão de tela enorme para assistir ao Grêmio jogar. Confortáveis, iríamos falar da família, de boas lembranças e da saúde que nos permite viver e recordar. Falaríamos do Grêmio, também, por que não ? E foi o que fizemos durante mais do que os 90 minutos de bola rolando. Mesmo porque nosso prazer de estarmos juntos outra vez jamais será refém do tempo destinado ao futebol. Nem da alegria que, por ventura, este possa nos proporcionar.
Foi um ótimo jogo este que joguei ao lado deles. E não falo do futebol, é óbvio.
Milton Jung - Blog
