Difícil, mesmo, é ser médico. Você sabe: antes de fardar jaleco e pendurar estetoscópio no pescoço, o aspirante a doutor tem de passar por uma preparação acadêmica longa e exaustiva. Quase humilhante, em alguns casos – mas absolutamente necessária, convenhamos.
Pois bem: uma dupla de professores de Harvard vem defendendo a tese de que é preciso submeter os estudantes de Administração às mesmas provações acadêmicas que forjam os nossos melhores médicos.
Em um artigo publicado na mais recente edição da Harvard Business Review (veja o resumo executivo), os indianos Rakesh Khurana e Nitin Nohria atestam: chegou a hora de "transformar a Administração em uma profissão de verdade". Isto é, impor padrões mais rigorosos de formação técnica e acadêmica e estabelecer um código de conduta mundialmente aceito pelos profissionais da área.
Não é pouca coisa. O que eles defendem é mais do que uma chacoalhada nos sistemas de ensino da Administração. É algo que inspire uma mudança de comportamento nos gestores de empresas, de modo que eles tenham uma noção mais clara do que é "certo" ou "errado".
Para os professores de Harvard – e aqui chegamos à questão que justifica toda essa conversa –, a crise econômica que abala o mundo é cria de administradores gananciosos demais, que negligenciaram aspectos técnicos da profissão em nome de lucros surreais e de uma visão egoísta, apegada ao curto prazo.
Nesse sentido, dizem eles, tornar o ensino da Administração mais rigoroso e alinhar os gestores a um código de conduta – tal como acontece com os médicos – seria uma maneira de evitar um novo desmoronamento da economia global no futuro.
Khurana e Nohria chegam a propor a criação de uma "versão para administradores" do Juramento de Hipocrátes, o tradicionalíssimo código de ética da Medicina. No artigo, eles afirmam que esse tipo de juramento "cria e sustenta um sentimento de comunidade e de comprometimento mútuo de seus seguidores para com a profissão".
Eles até sugerem algumas frases para o tal juramento. Por exemplo: "Eu juro que jamais colocarei meus interesses pessoais acima dos interesses da empresa cuja gestão me foi confiada". Outra: "Eu apresentarei o desempenho da minha empresa a todas as partes interessadas com precisão e transparência".
Resta saber o que vai acontecer com os milhares de profissionais que comandam empresas sem jamais terem pisado numa faculdade de Administração.
