Cálculo feito por José Nêumane, me parece, contava, faz algum tempo, trinta milhões de ligações a cada “paredão” (sei lá o que é isso, mas deve ser frequente). A trinta centavos por ligação, a arrecadação atinge nove milhões de reais. Se a emissora de TV a repartir, meio a meio, com a empresa telefônica, cada uma levará quatro milhões e meio. O programa dura uns três meses. Calcule-se a fortuna que os telespectadores repassam a quem já tem faturamento altíssimo. Um dos últimos paredões, disseram, recebeu mais de noventa milhões de ligações. É só fazer as contas.
Tudo bem; cada um é dono de seu nariz e mete-o onde preferir. Se alguém quer se atirar de uma ponte, problema dele. Mas não é errado tentar demovê-lo. Não posso dar de ombros com a desculpa de que não tenho nada com isso. Minha pobre opinião não vai mudar nada. Mas canal de TV no Brasil não é concessão pública? Então, em nosso nome, o Governo dá autorização para uma pessoa ou grupo explorá-lo. Não estou falando de censura. Defendo liberdade de expressão sempre.
Liberdade, porém, não é porta aberta a qualquer baixeza, exploração de taras ou satisfação de morbidez. Dependência de anúncios e controle de audiência não justificam a hipócrita cantilena: “A gente dá aquilo de que o povo gosta”. Se uma criança se põe a comer o próprio excremento, mãe nenhuma aceita o esquisito cardápio, sob o argumento de que o filho gosta.
Outros países também têm TV comercial. Que não traz nem sombra da podridão e da grosseria apresentadas pela nossa. Os responsáveis têm cultura e prezam o nível moral e intelectual das pessoas. Telespectadores conscientes, por sua vez, recusam qualquer imundície. Boicotam os produtos anunciados e exigem melhora no padrão dos programas.
“O BBB veio da Holanda, portanto da Europa”, argumentam alguns. Mas por que esse gosto de besouro, que só aprecia o esgoto alheio? Há programas de cultura, de ciência, de entretenimento, de arte e de valorização da inteligência. Por que só importar lixo? “Programas de nível elevado não dão audiência”, respondem.
Ah, então confessam que seu objetivo é tão somente o lucro, não é? E o povo? Ora, que continue ignorante para seguir enchendo o bolso dos que detêm a concessão. Povo culto cria problema para quem se instalou no comando.
Depois, criticam o coronelismo político dos grotões. Dos grotões televisivos, que são o Brasil inteiro, ninguém fala. Ninguém liga para esse espaço entregue, de mão beijada, aos coronéis da mídia, cuja ambição se locupleta com a imbecilidade do telespectador, garantia de lucro certo para eles.
* Monsenhor Orivaldo Robles é vigário da Catedral Basílica Menor Nossa Senhora da Glória em Maringá
Nossa, muito bem esplanado.
É muito triste ver os dados que acabei de ler, infelizmente é o fato.
Programas que fazem as pessoas pensarem não dá hibope.E o mais triste é que quem assiste nem está preocuapdo com a nossa preocupaçào.
Há uma matéria na revista Época onde há a denúncia que alguém burlou o resultado, votando várias vezes para que desse o resultado que deu.
Lamentáve, pois um país só cresce com a Educação, mas é isso mesmo que eles querem!!!!!!