O pai já tentara internar o filho diversas vezes, mas sem sucesso. São poucas as instituições públicas que acolhem dependentes químicos e as entidades privadas são inacessíveis pelo custo do tratamento. Sem alternativa, adolescentes como o filho do desesperado carpinteiro engrossam as estatísticas de viciados e, por extensão, da criminalidade. A história desse pai é igual a tantas outras que evidenciam a tragédia das drogas.
A abordagem do tema se insinua redundante, pois na mesma medida em que se debate à exaustão o problema, cresce na mesma proporção o tráfico e o consumo. A equação não se equilibra e a cada instante incorpora novas variáveis que dificultam sua solução. Trata-se de um passivo transnacional que desafia a todos – governos e sociedade, acuados por uma urgência de viés duplo: social e policial.
Ainda que a repressão à produção e ao tráfico oriente a política mundial de combate às drogas, estatísticas revelam que não se obtém êxito nessa cruzada. No final dos anos de 1990, a Organização das Nações Unidas (ONU) decidiu intensificar as ações policiais contra cartéis que dominam o mercado internacional. Milhares de toneladas de drogas apreendidas depois – associadas a muitas mortes -, o resultado dessa guerra é pouco animador.
Relatório divulgado ano passado mostra que a produção e o consumo de drogas como maconha e cocaína se estabilizaram, mas em contrapartida registrou-se um enorme crescimento no uso de substâncias como o crack e outros alucinógenos de fácil acesso e custo baixo, produzidos com facilidade em laboratórios de fundo de quintal. A ONU não assume, mas o mundo perdeu a guerra contra as drogas.
Estima-se que as operações policiais apreendam apenas 20% da droga em circulação – e pior: parte desse percentual volta às ruas pelo desvio da corrupção. Outro dado preocupante: somente 25% dos dependentes que se submetem ao tratamento de fato se livram do vício por conta da desestrutura familiar e da ineficiência da terapia, onerosa por exigir equipe multidisciplinar de especialistas.
Debruçar sobre esses números, que se desdobram em várias direções, é encarar uma realidade não apenas preocupante, mas trágica. Isso porque esses percentuais apontam para mortes, violência, criminalidade, sofrimento... São vidas tragadas pela fumaça e alucinação para movimentar um negócio estimado em US$ 500 bilhões por ano, valor maior do que o PIB de muitos países.
A questão que se impõe diante desse quadro é sempre a mesma: o que fazer? Os mais liberais defendem a descriminalização de substâncias como a maconha, por entendê-la como inofensiva, numa postura que suscita as mais diversas contestações. O argumento mais comum evocado por quem discorda da permissividade é o ‘efeito escada’ do uso da maconha, que levaria ao consumo de outras drogas mais ‘pesadas’.
A discussão se arrasta enquanto o abuso de drogas assume proporções de epidemia, expressão que não se notabiliza como exagero ao se verificar a inserção cada vez maior de substâncias como o crack no tecido social. O problema se agigante pela falta de uma política nacional de enfrentamento do problema, o que leva à falta de recursos e, por extensão, de infra-estrutura de tratamento dos dependentes.
Não vejo outra saída para a questão das drogas senão a estratégia do combate ao tráfico de forma cada vez mais especializada e intensa, com a contrapartida de investimentos ainda mais expressivos em campanhas de conscientização e na instalação de uma rede de instituições de tratamento equipadas com o aparato necessário para elevar o índice de recuperação de dependentes.
Talvez seja necessário inverter a ordem dos investimentos para priorizar o esclarecimento acerca dos malefícios do consumo der drogas e a infra-estrutura para abrigar viciados, dando-lhes o apoio médico adequado para exorcizar de vez a dependência. O fortalecimento de ONGs que já atuam nessa área pode ser o caminho mais rápido para dar resposta a essa demanda.
Seja qual for a solução mais adequada para o enfrentamento das drogas, é chegado o momento de discutir menos e atuar mais no sentido de aparelhar o Estado, a começar pelos municípios, de forma a estabelecer uma estratégia eficiente capaz de agir em três frentes com a mesma intensidade: no combate ao tráfico, nas conscientização e na recuperação dos dependentes. Qualquer coisa diferente disso é alongar o discurso para não enfrentar o problema.
* Evandro Junior é vereador em Maringá
Que situação triste!
Até quando vamos perder os jovens para essa guerra maldita.
É uma gueera desleal. Enquanto traficantes deitam e rolam, nós ficamos a merce da sorte.