O caso da moça que foi de microvestido – vá lá, nem era tão micro assim – vai render a bela a realização do sonho da casa própria. Isso, se for verdadeira a informação de que ela aparecerá em grande revista masculina de circulação nacional (um eufemismo para “Playboy”).
É certo que o cachê não chegará nem perto das beldades globais, das musas carnavalescas, das modelos internacionais – aliás, essas nem aparecem mais com tanta frequência, pois a moda cada vez mais minimalista já nos permite observar tudo o que deveria estar escondido sem que seja necessário lançar mão de publicações destinadas ao público adulto masculino (mais um eufemismo para “Playboy”).
Geisy – esse é o nome da garota que provocou tumulto na universidade ao chegar com o tal vestidinho na aula – está mais para terceiro escalão de celebridade a aparecer nua em pelo. Pode ser comparada à Fogueteira (lembram? Aquela que jogou um rojão no Maracanã e acertou o goleiro do Chile em um jogo da seleção).
Ou à rainha dos sem-terra – não confundir com o Rainha, pois aí você pode levar um susto ao pegar enganado uma revista cujo nome é a sétima letra do alfabeto (um eufemismo para “G Magazine”).
O José Pedriali, nosso colega de trabalho e autor de um livro sobre a retirada rápida e precipitada de um jornalista em um terreno montanhoso na divisa do Peru com o Brasil (um eufemismo para “Fuga dos Andes”, o nome da portentosa obra) ficou deveras consternado com essa história do microvestido na instituição de ensino superior.
Postou em seu blog algumas considerações, defendendo a universidade e criticando a conduta da moça. Recebeu algumas dezenas de mensagens, acho que nenhuma apoiando o posicionamento adotado. Enfim, foi ciberlinchado.
Desconfio que a moça sequer pensou que sua vida estava prestes a mudar radicalmente, no curto tempo que gastou para colocar a peça de roupa (e põe curto nisso). Enquanto se vestia, ela inadvertidamente traçava uma linha de destino que convergiria tanto com as manifestas intenções de alunos da tal universidade, que não queriam assistir às aulas e precisavam de apenas uma pequena desculpa para isso, como também com os interesses de uma mídia sedenta de fatos estrambóticos e de condutas polêmicas (um eufemismo para “Superpop” e outros programas do gênero).
No fim, mal sabia ela, e desconfio que continuará sem saber, que o uso da peça pink (um anglicismo para “cor-de-rosa”) traria inspiração para este singelo cronista.
Ou que desembocaria na imolação virtual de nosso camarada aqui da Redação. Ou, ainda, que acabaria trazendo à tona a cena do casamento do dono da tal universidade – que na cerimônia calçava sapatos de material retirado de baleia branca, mais precisamente da prega cutânea que recobre a glande do pênis do animal (um eufemismo para... deixa pra lá).
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* Clóvis Augusto Melo é jornalista e editor de "O Diário"