No dicionário Aurélio, tolerância significa “qualidade de tolerante, ato ou efeito de tolerar pequenas diferenças para mais ou para menos; respeito ao direito que os indivíduos tem de agir, pensar e sentir, de modo diverso do nosso”. Tolerante é “que desculpa; indulgente; que admite e respeita opiniões contrárias à sua”. Tolerar é “ter capacidade ou resistência para suportar”.
A sociedade moderna perdeu a capacidade de desculpa, de diálogo, de buscar a raiz dos fatos. Perdeu a capacidade de suportar a limitação humana do outro; perdeu a coragem de ir além dos imprevistos. Tudo deve acontecer como quero, na hora que quero, do jeito que quero, tudo centralizado no benefício pessoal, não se importando em nada, com os demais.
Uma sociedade que caminha no pedestal, tendo ao redor, uma multidão de pessoas para servir e agradar aos próprios desejos, mesmo que absurdos, é uma sociedade doente, mal amada, buscando suprir o que falta por dentro.
O coração humano perdeu a sensibilidade de superar-se , descarregando no outro os insaciáveis desejos e sentimentos recalcados. Uma sociedade que não sabe perder, só pode cair na vingança que significa “tirar desforra, castigar, punir, promover reparação de agravo”. Tem gente que tem prazer em ser vingativo, castigando, vendo o outro sofrer.
A vida nos prepara para viver contínuas decepções e imprevistos. As limitações humanas devem fazer parte da convivência cotidiana, sem querer que tudo e todos sejam perfeitos. Não quero dizer, que devemos ser complacentes ou indulgentes com o erro e comodismo alheios. Não se trata de fechar os olhos. Mas, em tudo e com todos, nunca deve faltar um alto grau de compreensão e tolerância. Essas atitudes não vêm de uma simples vontade pessoal, mas de uma valorização do próprio eu, do querer bem a si mesmo, para querer bem ao outro.
“Quando retribuímos o mal com o mal, provocamos uma cadeia infinita de ferimentos e represálias. Assim, o ato que feriu alguém é retribuído com um novo ferimento. Desse modo, a sociedade humana torna-se cada vez mais ferida, cada vez mais doente, cada vez mais dilacerada. Jesus nos convida a experimentar outros modos de conduta que servem melhor para a nossa convivência neste mundo. Ele não estabelece leis, mas descreve situações nas quais podemos ensaiar outras possibilidades de conduta. Ele nos convoca a usar a nossa criatividade para sairmos do círculo vicioso da desforra”(Anselm Grün).
Somente quando assumirmos atitudes verdadeiramente evangélicas, podemos assistir o nascimento de uma nova realidade.
Tolerar sempre! Vingar nunca!
Dom Anuar Battisti é Arcebispo de Maringá